08 novembro 2010

Luís Fernando Veríssimo

  Como pediram muito resolvi postar uma crônica de Luís Fernando Veríssimo que fala sobre o casamento. Gostei muito e achei muito engraçada ela, espero que gostem e comenten.
DESABAFO DE UM BOM MARIDO
   Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras.Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma máquina de fazer pão elétrica.Então ela disse: ‘Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar’.Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Eu me casei com a ‘Sra. Certa’. Só não sabia que o primeiro nome dela era ‘Sempre’.
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: ‘O que tem na TV?’ E eu disse ‘Poeira’.
No começo Deus criou o mundo e descansou.
Então, Ele criou o homem e descansou.
Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo tiveram mais descanso.
Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre me dando a entender que eu deveria consertá-lo. Mas eu sempre acabava tendo outra coisa para cuidar antes, o caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma coisa mais importante para mim.
Finalmente ela pensou num jeito esperto de me convencer.
Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta, ocupada em podá-la com uma tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por um tempo, me emocionei bastante e depois entrei em casa. Em alguns minutos eu voltei com uma escova de dentes e lhe entreguei.
‘- Quando você terminar de cortar a grama,’ eu disse, ‘você pode também varrer a calçada.’
Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida’.
‘O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre certa e a outra é o marido…’


Walney Rodrigues

26 outubro 2010

Beliscavam-no - Rubem Braga

o era muito benquisto, nem bem falado, o grande poeta Augusto Frederico Schmidt.
Logo que ele apareceu, Aporelly, que parodiava com muita graça e perversidade seus poemas, apelidou-o de "Gordinho Sinistro". Como editor, Schmidt descobriu Graciliano Ramos e lançou Gilberto Freyre, mas criou fama de mau pagador. Aquele poeta de versos compridos e estranhos, que falavam da solidão e da morte, contrastava com a figura de homem de negócios que ele era. Menos industrial ou negociante que relações públicas; naquele tempo essa profissão não era conhecida (ou reconhecida), e as pessoas maldosas falavam em advocacia administrativa e tráfico de influência.
Schmidt não fazia muito para combater essa imagem. Deleitava-se até, parece, em afirmar coisas obviamente falsas, por exemplo:
- "Vou lhe dizer uma coisa, Rubem Braga: tenho fama de rico, mas na verdade não tenho onde cair morto!"
(Tinha. Sua viúva, felizmente, nunca passou necessidade).
Eu acabara de lhe pagar os modestos direitos autorais de uma antologia de seus poemas, que fiz para a Sabiá, e ele me disse que era a primeira vez em toda a sua vida que recebia algum dinheiro pelos seus versos - o que não sei se era verdade ou exagero.
De qualquer modo, confesso que tive uma boa surpresa quando uma jovem me contou, no ano passado, um gesto do poeta. O pai dessa moça, professor universitário, era amigo de Schmidt, e morreu deixando uma filharada. Schmidt procurou a família e avisou que o supermercado de que era sócio, o Disco, tinha ordem para fornecer semanalmente todos os alimentos e artigos de casa necessários; e assim foi feito durante anos. Não conheço muitos atos de generosidade efetiva como este.
Schmidt ironizava muito os escritores e jornalistas que exaltavam as qualidades do homem do povo, que cantavam as virtudes do pobre. Lembrava sua experiência. Nascido relativamente rico, educado na Suíça, ficou, a certa altura, ainda rapazinho, em situação muito má. O emprego que arranjou foi o de caixeiro em uma casa de modas, a Barbosa Freitas, que naquele tempo era na Avenida Rio Branco.
Schmidt lembrava que os outros caixeiros implicavam com ele porque usava óculos - naquele tempo caixeiro não usava óculos. E, como era gordinho, os outros o ridicularizavam. Quando era preciso apanhar um artigo qualquer na prateleira mais alta, Schmidt era o escolhido: e lá ia ele a subir com medo a escada fina e trêmula... Sempre alguém aproveitava para beliscá-lo no traseiro.
"Pobre é isso" - dizia Schmidt.
                                                                                                 

25 outubro 2010

Desafio

A professora Gilsa passou um desafio para a equipe do blog, mais esquecemos. Hoje na sua aula passou outro e aqui está ele. Dizer o que as crônicas abaixo tem em comum com o significado da palavra flashback.


- Fila nos Bancos
- Ele comprou tudo que Van Gogh pintou
- Essa mocidade de hoje
- Cães de apartamento
- Marketing oportunista
- Brilhantes currículos
- Desculpe foi engano
- Taxi! Taxi !
- O nocaute inesquecível

Boa noite, espero que todos consigam fazer.

Walney Rodrigues

23 outubro 2010

Crônica, o telefone.

Honrado Senhor Diretor da Companhia Telefônica:


Quem vos escreve é um desses desagradáveis sujeitos chamados assinantes; e do tipo mais baixo: dos que atingiram essa qualidade depois de uma longa espera na fila.

Não venho, senhor, reclamar nenhum direito. Li o vosso Regulamento e sei que não tenho direito a coisa alguma, a não ser a pagar a conta. Esse Regulamento, impresso no página 1 de vossa interessante Lista (que é o meu livro de cabeceira), é mesmo uma leitura que recomendo a todas as almas cristãs que tenham, entretanto, alguma propensão para o orgulho ou soberba. Ele nos ensina a ser humildes; ele nos mostra o quanto nós, assinantes, somos desprezíveis e fracos.

Aconteceu, por exemplo, senhor, que outro dia um velho amigo deu-me o prazer de me fazer uma visita. Tomamos uma modesta cerveja e falamos de coisas antigas -- mulheres que brilharam outrora, madrugadas dantanho, flores doutras primaveras. Ia a conversa quente e cordial, ainda que algo melancólica, tal soem ser as parolas vadias de cupinchas velhos -- quando o telefone tocou. Atendi. Era alguém que queria falar ao meu amigo. Um assinante mais leviano teria chamado o amigo para falar. Sou, entretanto, um severo respeitador do Regulamento; em vista do que comuniquei ao meu amigo que alguém lhe queria falar, o que infelizmente eu não podia permitir; estava, entretanto, disposto a tomar e transmitir qualquer recado. Irritou-se o amigo, mas fiquei inflexível, mostrando-lhe o artigo 2 do Regulamento, segundo o qual o aparelho instalado em minha casa só pode ser usado "pelo assinante, pessoas de sua família, seus representantes ou empregados".

Devo dizer que perdi o amigo, mas salvei o repeito ao Regulamento; dura lex sed lex; eu sou assim. Sei também (artigo 4) que se minha casa pegar fogo terei de vos pagar o valor do aparelho -- mesmo que esse incêndio (artigo 9) tenha sido motivado por algum circuito organizado pelo empregado da Companhia com o material da Companhia. Sei finalmente (artigo 11) que se, exausto de telefonar do botequim da esquina a essa distinta Companhia para dizer que meu aparelho não funciona, eu vos chamar e vos disser, com lealdade e com as únicas expressões adequadas, o meu pensamento, ficarei eternamente sem telefone, pois "o uso de linguagem obscena constituirá motivo suficiente para a Companhia desligar e retirar o aparelho".
Enfim, senhor, eu sei tudo; que não tenho direito a nada, que não valho nada, não sou nada. Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge. Isso me trouxe, é certo, um certo sossego ao lar. Porém amo, senhor, a voz humana; sou uma dessas criaturas tristes e sonhadoras que passa a vida esperando que de repente a Rita Hayworth me telefone para dizer que o Ali Khan morreu e ela está ansiosa para gastar com o velho Braga o dinheiro da sua herança, pois me acha muito simpático e insinuante, e confessa que em Paris muitas vezes se escondeu em uma loja defronte do meu hotel só para me ver entrar ou sair.

Confesso que não acho tal coisa provável: o Ali Khan ainda é moço, e Rita não tem o meu número. Mas é sempre doloroso pensar que se tal coisa acontecesse eu jamais saberia -- porque meu aparelho não funciona. Pensai nisso, senhor: pensai em todo o potencial tremendo de perspectivas azuis que morre diante de um telefone que dá sempre sinal de ocupado -- cuém, cuém, cuém -- quando na verdade está quedo e mudo na minha modesta sala de jantar. Falar nisso, vou comer; são horas. Vou comer contemplando tristemente o aparelho silencioso, essa esfinge de matéria plástica; é na verdade algo que supera o rádio e a televisão, pois transmite não sons nem imagens, mas sonhos errantes no ar.

Mas batem à porta. Levanto o escuro garfo do magro bife e abro. Céus, é um empregado da Companhia! Estremeço de emoção. Mas ele me estende um papel: é apenas o cobrador. Volto ao bife, curvo a cabeça, mastigo devagar, como se estivesse mastigando os meus pensamentos, a longa tristeza da minha humilde vida, as decepções e remorsos. O telefone continuará mudo; não importa: ao menos é certo, senhor, que não vos esquecestes de mim.





Apesar da cronica ser um pouco grande, eu li e achei muito interessante, pois se percebermos Rubem Braga faz uma reclamacao do seu aparelho, que no caso é o telefone. Ele nessa cronica nos mostra a necessidade que o ser humano tem de ter uma amizade, ter alguem pra se comunicar e que o aparelho no qual ele se refere, seria um bom meio para isso. Bom, não sei se é exatamente isso, mas foi isso que entendi pelo que eu li.

19 outubro 2010

O Pavão

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rubem Braga
Rio, novembro, 1958

18 outubro 2010

Rubem Braga


  Bom por sugestão de Gilsa iria postar uma crônica de Rubem Braga. Mais achei melhor conhecermos ele primeiro, a historia e obra dele primeiro.

  Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim, 12 de Janeiro de 1913  Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 1990) foi um escritor lembrado como um dos melhores cronistas brasileiros. Era irmão do poeta e jornalista Newton Braga.
  Iniciou-se no jornalismo profissional ainda estudante, aos 15 anos, no Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim, fazendo reportagens e assinando crônicas diárias no jornal Diário da Tarde. Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte em 1932, mas não exerceu a profissão. Neste mesmo ano, cobriu a Revolução Constitucionalista deflagrada em São Paulo, na qual chega a ser preso. Transferindo-se para Recife, dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco. Nesta cidade, fundou o periódico Folha do Povo. Em 1936 lançou seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, e fundou em São Paulo a revista Problemas, além de outras. Durante a Segunda Guerra Mundial atuou como correspondente de guerra junto à F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira).
  Rubem Braga fez diversas viagens ao exterior, onde desempenhou função diplomática em Rabat, a capital do Marrocos, atuando também como correspon dente de jornais brasileiros. Após seu regresso, exerceu o jornalismo em várias cidades do país, fixando domicílio no Rio de Janeiro, onde escreveu crônicas e críticas literárias para o Jornal Hoje, da Rede Globo de televisão. Sua vida como jornalista registra a colaboração em inúmeros perió dicos, além da participação em várias antologias, entre elas a Antologia dos Poetas Contemporâneos.

Bom ai deu pra conhecermos um pouco sobre Rubem Braga. Amanhã postaremos uma crônica desse grande escritor.
Boa Noite a todos!!

Walney Rodrigues

12 outubro 2010

Neologismo

Bom na ultima aula a professora Gilsa nos fez uma pergunta sobre o que era neologismo e ninguém soube responder. Então resolvi postar aqui o que é neologismo para esclarecer a todos e não esquecermos mais.


Neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente. Pode ser fruto de um comportamento espontâneo, próprio do ser humano e da linguagem, ou artificial, para fins pejorativos ou não.
Pertence à família morfológica Neo (novo), cuja origem deriva do latim novus, nova, novum e do grego νές; do sânscrito návah.
Pode também referir-se a uma nova doutrina no campo da Teologia que procura esclarecer o significado e significante das expressões presentes nas traduções bíblicas.

Um exemplo prático, muito usado no Brasil, é o caso do termo "refri" onde se faz uso de um neologismo, uma vez que esta palavra é uma criação relativamente recente (Significa uma gíria para "refrigerante").

Espero que tenha esclarecido o que é neologismo ! Resumindo são palavras que inventamos e que surgem em todos os lugares telejornais descrevendo uma nova tecnologia e etc. Boa noite e bom feriado a todos!

Walney Rodrigues

08 outubro 2010

caracteristicas e estrutura da cronica

Boa noite trambiqueiros, vou falar um pouco sobre o assunto que nossa professora Gilsa deu em sala de aula, essa semana! Espero que vocês gostem e se interessem!


· Ligada à vida cotidiana;
· Narrativa informal, familiar, intimista;
· Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial;
· Sensibilidade no contato com a realidade;
· Síntese;
· Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
· Dose de lirismo;
· Natureza ensaística;
· Leveza;
· Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada;
· Uso do humor;
· Brevidade;
·  É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.


Gênero híbrido que comporta ficção e realidade, é manifestação de linguagem na qual acontecimentos do dia a-dia transformam se em literatura. É assim o resultado da visão pessoal e subjetiva do cronista que, através de uma linguagem coloquial, aproxima se bastante do leitor, e, em geral, inaugura um outro olhar" sobre um fato qualquer do cotidiano ou do noticiário do jornal. Millôr Fernandes diz que "a estrutura da crônica é uma desestrutura; a ambigüidade é sua lei." É um gênero literário que, a princípio, era um "relato cronológico dos fatos sucedidos em qualquer lugar", isto é, uma narração de episódios históricos. Era a chamada "crônica histórica". Essa relação de tempo e memória está relacionada com a própria origem grega da palavra, Chronos, que significa tempo. Portanto, a crônica, desde sua origem, é um "relato em permanente relação com o tempo, de onde tira, como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido".

Bom trambiqueiros, está ai mais uma postagem e essa é falando sobre as caracteristicas e a estrutura de uma cronica, espero que tenha esclarecido e aprofundado bem no assunto e que gostem, boa noite!

07 outubro 2010

Crônica Politica

Carreira politica o inicio.


A jornalista entrevista um famoso deputado:

- Deputado, o senhor pode nos dizer como começou a sua carreira de político?

- Ah! Foi logo na infância... eu ainda estudava no primário...

- No primário?! - espantou-se a jornalista.

- Sim! Um dia meu pai me chamou e disse: "Filho, a partir de hoje eu vou lhe dar mil cruzeiros toda as vezes que você tirar uma nota maior que 7". Então, eu cheguei para a minha professora e falei: "Escuta, dona Clotilde, a senhora não gostaria de ganhar quinhentos cruzeiros de vez em quando? "
 
Postagem feita por: Flávia Lima

05 outubro 2010

Crônica de Luiz Fernando Verissimo


Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Postagem feita por: Iann

04 outubro 2010

4˚ Bimestre

Estamos entrando no 4˚ bimestre e com isso um novo grupo assumiu o comando do blog. Esse grupo é composto por Ana Luisa, Flavia, Iann, Thais e Walney. Espero que nosso grupo consiga postar coisas boas e interessantes para que todos gostem e comentem. E qualquer sugestão so é falar conosco, certo? E amanhã ja teremos um novo post, fiquem atentos !!




Walney Rodrigues

29 setembro 2010

*Boa noite trambiqueirosss! Primeiramente não se assustem ao olhar o tamanho da postagem, ela realmente é grandinha, mas o tamanho dela equivale também a mensagem que ela passa! Bom, o texto foi escolhido por ser da autora Marina Colassanti, que foi a autora escolhida pelo grupo das meninas que ficaram com o tema “ Nosso Tempo”, do nosso livro Convite a Leitura. Como já sabemos que ela não é brasileira, mas que veio para o Brasil para acrescentar positivamente na nossa literatura, só preciso falar que o assunto do texto não tem a ver com o tema das meninas, porém, podemos relacioná-lo perfeitamente com a realidade da segurança do nosso país nos dias de hoje!

Começou, ele disse
Marina Colasanti
Acordou com o primeiro tiro sem saber porque tinha acordado. Trazia porém do sono um aviso de alarme. Sem se mexer, sem abrir completamente os olhos para não denunciar sua vigília, olhou em volta pela fresta das pálpebras. Lentamente percorreu as sombras, detendo-se mais na cadeira, onde as roupas jogadas criavam formas que não lhe eram familiares. Fazia sempre assim quando acordava de repente no meio da noite e o coração descompassado lhe dizia que talvez houvesse algum invasor no quarto. E cada vez se detinha na cadeira. Não havia ninguém. Permitiu-se então abrir os olhos, levantar a cabeça, só pelo prazer de tornar a fechá-los, ajeitando-se no travesseiro. O segundo tiro estalou seco na rua.

O som colheu-o no estômago, na cabeça, na pele. E com a pele pareceu eriçar os lençóis, ferir a colcha. Mesmo assim não se mexeu.

Um tiro que assalta nosso sono sempre atinge o alvo, ainda que o alvo não sejamos nós, pensou surpreendendo-se com a nitidez do pensamento. Sentia-se atingido, a sensação tão mais importante do que a ordem das palavras.

Esperou um instante para ver se a mulher a seu lado na cama se mexia. Mas o colchão continuou imóvel como se vazio. Melhor assim, ela era muito impressionável, se acordasse o assunto acabaria se estendendo no dia seguinte tornando-se difícil de apagar. Ele próprio continuou na mesma posição. Tentou ouvir a respiração dela. Antes que o conseguisse, adormeceu.

Talvez tivesse apenas cochilado, questão de minutos, porque logo estava novamente acordado, olhos bem abertos, nenhum descompasso, e a certeza de saber quem lhe entrava quarto adentro. Dessa vez não era um tiro. Rajadas de metralhadora pareciam ricochetear entre os prédios estremecendo os vidros da janela. Um corte no ar, picotes abrindo superfícies que ele não via, não imaginava, recusando-se ainda a pensar carne e sangue. As rajadas seguiam-se a intervalos pequenos. E a cada brecha de silêncio ele desejava que fosse a última, fechando a noite onde ela havia sido rasgada, restaurando integridade da escuridão como o lago restaura sua superfície encobrindo o corpo que caiu.
A primeira granada estourou altíssima. Começou, disse mulher. E ele então mexeu-se porque já não era necessário cuidar do sono dela. Começou, respondeu. Continuaram no escuro.

Da rua — mas seria mesmo daquela rua?, os sons se alastravam com tal rapidez que poderiam estar vindo da praça, ou de outra rua —, de onde quer que fosse, ali embaixo ou ali perto, chegavam agora tiros de revólver. E gritos. Eram ordens gritadas, iradas, esparsas. Será que não acertam ninguém, perguntou-se ele calado, porque nenhum grito de dor ou de medo lhe chegava e a dor e medo pareciam ser só dele, dele que ali deitado não era a caça de ninguém e se sentia ferido. Desejou que se matassem, que se rasgassem, que se largassem aos pedaços pelo chão.

Levantou-se. Não vai, disse a mulher, embora sabendo que ele só iria até a janela e que mesmo assim o chegaria perto dos vidros, protegendo-se atrás da quina de cimento. Não vai, você está louco, uma bala perdida te acerta. Nessa altura não chega, disse ele certo que no alto daquele prédio alto nenhuma bala viria se perder, e ainda assim não ousando aproximar-se nem muito menos debruçar o corpo e esticar o pescoço para vasculhar, vasculhar o escuro e saber, com alguma mínima certeza, o que estava se passando.

Entre vidro e cimento olhou para baixo. Acreditou ter visto sombras furtivas. Certamente defendiam-se atrás dos carros estacionados, protegiam-se nos portões, alguns haveriam de correr entre um anteparo e outro, armas nas mãos. Estão lá embaixo, disse para a mulher. Mas sabia que tinha visto o que queria ver, talvez não houvesse ninguém naquele rio negro que era a rua visualizada do alto e ainda por cima encoberta pelas copas das árvores, talvez estivessem mais para lá, além do sinal luminoso que alheio como um farol continuava a trocar de cor.

Uma explosão. E quase em cima daquela, outra. Mais fortes, dessa vez. Recuou rápido, meteu-se na cama. Estão usando armamento pesado, disse a mulher como se entendesse de armamento. E ele respondeu, talvez sejam granadas, sabendo muito bem que nunca antes tinha ouvido uma explosão de granada e que não saberia distingui-la de qualquer outra explosão.

A fuzilaria pipocou, as balas pareciam ferir chapas de metal. Ao longe, sons semelhantes responderam. Depois explosões em série, um estrondo. E o silêncio. Nenhum carro passava.

Eles não encontravam nada para dizer. Pensavam que deveriam tentar dormir porque no dia seguinte, mas como? e se deixavam ficar, tomados por aquele medo que não era medo porque nada iria lhes acontecer mas que era medo porque tudo estava lhes acontecendo. Durante longo tempo ouviram o tiroteio intenso que ora se aproximava, ora parecia afastar-se, quase ocorresse atrás de muros. Aquilo não tinha fim. Como uma guerra, pensou ele encolhendo as pernas sobre o peito, de costas para a mulher. As rajadas multiplicavam-se em ecos, silenciavam de repente, sobrepunham-se. Sentiu um desespero sem conserto apertar-lhe a boca, azedar-lhe a saliva. Como uma guerra, disse em voz alta. E ela não respondeu, mas ele teve certeza de que em silêncio repetia, uma guerra meu deus uma guerra.

Uma guerra da qual amanhã certamente não haveria nenhum vestígio nas ruas, nenhuma notícia no jornal. Uma guerra em que todos lutavam com o rosto coberto. Chegaria um momento, na madrugada, quando as pessoas em suas camas estivessem exaustas, olhos ardendo de sono e secura, quando a batalha lá embaixo estivesse perdida ou gasta, chegaria um momento em que não se ouviriam mais tiros só cães latindo, e ele se perguntaria, como se perguntava cada vez, onde estão os mortos, onde, e quantos são, um momento em que afinal esticaria as pernas debaixo do lençol e deitado sobre as costas se permitiria afinal adormecer.

Olhou o despertador, mas a fluorescência há muito tinha se esvaído. Que hora será? perguntou à mulher, quando na verdade queria perguntar há quanto tempo estamos aqui e quanto tempo ainda teremos que ficar ouvindo, ouvindo o esfacelamento da noite. É tarde, respondeu a mulher só para dar-lhe uma resposta, ela que também tinha perguntas a fazer mas, para quê? E ele pensou é tarde, e teve vontade de chorar.


* Bom pessoal, eu espero que tenham gostado do “textinho” e talvez já me despedindo, que tenham gostado também das outras postagens que eu e todo o grupo fizemos durante o bimestre!
Beijos trambiqueiros!    



27 setembro 2010

Manuel Bandeira

                                                           Olá Trambiqueiros


Hoje, continuamos analisando alguns poemas e algumas crônicas do nosso livro paradidático e podemos analisar ótimas interpretações dos poemas e das crônicas do capítulo 6. As meninas também falaram um pouco da poetisa Marina Colassanti. Eu vou falar um pouco de Manoel Bandeira. Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. Em 1903 a família se muda para São Paulo onde Bandeira se matricula na Escola Politécnica, pretendendo tornar-se arquiteto. Estuda também, à noite, desenho e pintura com o arquiteto Domenico Rossi no Liceu de Artes e Ofícios. Começa ainda a trabalhar nos escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana, da qual seu pai era funcionário. No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas atividades e volta para o Rio de Janeiro. A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em junho de 1913 para a Europa. Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em outubro. Em 1916 falece sua mãe, Francelina. No ano seguinte publica seu primeiro livro: A cinza das horas, numa edição de 200 exemplares custeada pelo autor. O autor perde a irmã, Maria Cândida de Souza Bandeira, que desde o início da doença do irmão, havia sido uma dedicada enfermeira, em 1918. No ano seguinte publica seu segundo livro, Carnaval, em edição custeada pelo autor. O pai de Bandeira, Manuel Carneiro, falece em 1920. No dia 13 de outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista. Neste site você encontrará várias poesias do autor espero que vocês se interessem e olhem:
http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira.html

Beiijos trambiqueiros, e até a Próxima

24 setembro 2010

Rosa de Hiroshima

Olá a todos, hoje na aula de Gilsa, teve a apresentação dos grupos restantes do trabalho sobre os poemas do livro, em uma das apresentações, no grupo de Marceline, falaram sobre a Música "Rosa de Hiroshima", que eu achei muito emocionante, nota 10 o trabalho delas, e eu gostaria que vocês refletissem um pouco mais sobre a música e também comentar, pois é uma música muito bonita e cheia de ironias, segue ela a baixo:


Rosa de Hiroshima

Vinicius de Moraes

Composição: João Apolinário / Gerson Conrradi
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

23 setembro 2010

Música e Poesia

Boa Noite trambiqueiros, vou falar mais um pouco do tema que foi abordado por mim e Bruna na nossa última aula de literatura..

Deus e Eu no Sertão                                                                                                    
   

Nunca vi ninguém
Viver tão feliz
Como eu no sertão

Perto de uma mata
E de um ribeirão
Deus e eu no sertão

Casa simplesinha
Rede pra dormir
De noite um show no céu
Deito pra assistir

Deus e eu no sertão

Das horas não sei
Mas vejo o clarão
Lá vou eu cuidar do chão

Trabalho cantando
A terra é a inspiração
Deus e eu no sertão

Não há solidão
Tem festa lá na vila
Depois da missa vou
Ver minha menina

De volta pra casa
Queima a lenha no fogão
E junto ao som da mata
Vou eu e um violão
                                      Victor e Leo

Esconderijo

Procuro a Solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
pensamento sem razão
Procuro esconderijo
encontro um novo abrigo
como a arte do seu jeito
e tudo faz sentido
calma pra contar nos dedos
beijo pra ficar aqui
teto para desabar
você para construir
                                    Ana Cañas

Porque Eu Sei Que É Amor

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Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova

Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora

Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
E eu peço somente
O que eu puder dar

Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta

Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
E eu peço somente
O que eu puder dar

Porque eu sei que é amor
Porque eu sei que é amor
                                           Titãs
 
Espero que gostem e comentem...