08 novembro 2010

Luís Fernando Veríssimo

  Como pediram muito resolvi postar uma crônica de Luís Fernando Veríssimo que fala sobre o casamento. Gostei muito e achei muito engraçada ela, espero que gostem e comenten.
DESABAFO DE UM BOM MARIDO
   Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras.Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma máquina de fazer pão elétrica.Então ela disse: ‘Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar’.Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Eu me casei com a ‘Sra. Certa’. Só não sabia que o primeiro nome dela era ‘Sempre’.
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: ‘O que tem na TV?’ E eu disse ‘Poeira’.
No começo Deus criou o mundo e descansou.
Então, Ele criou o homem e descansou.
Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo tiveram mais descanso.
Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre me dando a entender que eu deveria consertá-lo. Mas eu sempre acabava tendo outra coisa para cuidar antes, o caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma coisa mais importante para mim.
Finalmente ela pensou num jeito esperto de me convencer.
Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta, ocupada em podá-la com uma tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por um tempo, me emocionei bastante e depois entrei em casa. Em alguns minutos eu voltei com uma escova de dentes e lhe entreguei.
‘- Quando você terminar de cortar a grama,’ eu disse, ‘você pode também varrer a calçada.’
Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida’.
‘O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre certa e a outra é o marido…’


Walney Rodrigues

26 outubro 2010

Beliscavam-no - Rubem Braga

o era muito benquisto, nem bem falado, o grande poeta Augusto Frederico Schmidt.
Logo que ele apareceu, Aporelly, que parodiava com muita graça e perversidade seus poemas, apelidou-o de "Gordinho Sinistro". Como editor, Schmidt descobriu Graciliano Ramos e lançou Gilberto Freyre, mas criou fama de mau pagador. Aquele poeta de versos compridos e estranhos, que falavam da solidão e da morte, contrastava com a figura de homem de negócios que ele era. Menos industrial ou negociante que relações públicas; naquele tempo essa profissão não era conhecida (ou reconhecida), e as pessoas maldosas falavam em advocacia administrativa e tráfico de influência.
Schmidt não fazia muito para combater essa imagem. Deleitava-se até, parece, em afirmar coisas obviamente falsas, por exemplo:
- "Vou lhe dizer uma coisa, Rubem Braga: tenho fama de rico, mas na verdade não tenho onde cair morto!"
(Tinha. Sua viúva, felizmente, nunca passou necessidade).
Eu acabara de lhe pagar os modestos direitos autorais de uma antologia de seus poemas, que fiz para a Sabiá, e ele me disse que era a primeira vez em toda a sua vida que recebia algum dinheiro pelos seus versos - o que não sei se era verdade ou exagero.
De qualquer modo, confesso que tive uma boa surpresa quando uma jovem me contou, no ano passado, um gesto do poeta. O pai dessa moça, professor universitário, era amigo de Schmidt, e morreu deixando uma filharada. Schmidt procurou a família e avisou que o supermercado de que era sócio, o Disco, tinha ordem para fornecer semanalmente todos os alimentos e artigos de casa necessários; e assim foi feito durante anos. Não conheço muitos atos de generosidade efetiva como este.
Schmidt ironizava muito os escritores e jornalistas que exaltavam as qualidades do homem do povo, que cantavam as virtudes do pobre. Lembrava sua experiência. Nascido relativamente rico, educado na Suíça, ficou, a certa altura, ainda rapazinho, em situação muito má. O emprego que arranjou foi o de caixeiro em uma casa de modas, a Barbosa Freitas, que naquele tempo era na Avenida Rio Branco.
Schmidt lembrava que os outros caixeiros implicavam com ele porque usava óculos - naquele tempo caixeiro não usava óculos. E, como era gordinho, os outros o ridicularizavam. Quando era preciso apanhar um artigo qualquer na prateleira mais alta, Schmidt era o escolhido: e lá ia ele a subir com medo a escada fina e trêmula... Sempre alguém aproveitava para beliscá-lo no traseiro.
"Pobre é isso" - dizia Schmidt.
                                                                                                 

25 outubro 2010

Desafio

A professora Gilsa passou um desafio para a equipe do blog, mais esquecemos. Hoje na sua aula passou outro e aqui está ele. Dizer o que as crônicas abaixo tem em comum com o significado da palavra flashback.


- Fila nos Bancos
- Ele comprou tudo que Van Gogh pintou
- Essa mocidade de hoje
- Cães de apartamento
- Marketing oportunista
- Brilhantes currículos
- Desculpe foi engano
- Taxi! Taxi !
- O nocaute inesquecível

Boa noite, espero que todos consigam fazer.

Walney Rodrigues

23 outubro 2010

Crônica, o telefone.

Honrado Senhor Diretor da Companhia Telefônica:


Quem vos escreve é um desses desagradáveis sujeitos chamados assinantes; e do tipo mais baixo: dos que atingiram essa qualidade depois de uma longa espera na fila.

Não venho, senhor, reclamar nenhum direito. Li o vosso Regulamento e sei que não tenho direito a coisa alguma, a não ser a pagar a conta. Esse Regulamento, impresso no página 1 de vossa interessante Lista (que é o meu livro de cabeceira), é mesmo uma leitura que recomendo a todas as almas cristãs que tenham, entretanto, alguma propensão para o orgulho ou soberba. Ele nos ensina a ser humildes; ele nos mostra o quanto nós, assinantes, somos desprezíveis e fracos.

Aconteceu, por exemplo, senhor, que outro dia um velho amigo deu-me o prazer de me fazer uma visita. Tomamos uma modesta cerveja e falamos de coisas antigas -- mulheres que brilharam outrora, madrugadas dantanho, flores doutras primaveras. Ia a conversa quente e cordial, ainda que algo melancólica, tal soem ser as parolas vadias de cupinchas velhos -- quando o telefone tocou. Atendi. Era alguém que queria falar ao meu amigo. Um assinante mais leviano teria chamado o amigo para falar. Sou, entretanto, um severo respeitador do Regulamento; em vista do que comuniquei ao meu amigo que alguém lhe queria falar, o que infelizmente eu não podia permitir; estava, entretanto, disposto a tomar e transmitir qualquer recado. Irritou-se o amigo, mas fiquei inflexível, mostrando-lhe o artigo 2 do Regulamento, segundo o qual o aparelho instalado em minha casa só pode ser usado "pelo assinante, pessoas de sua família, seus representantes ou empregados".

Devo dizer que perdi o amigo, mas salvei o repeito ao Regulamento; dura lex sed lex; eu sou assim. Sei também (artigo 4) que se minha casa pegar fogo terei de vos pagar o valor do aparelho -- mesmo que esse incêndio (artigo 9) tenha sido motivado por algum circuito organizado pelo empregado da Companhia com o material da Companhia. Sei finalmente (artigo 11) que se, exausto de telefonar do botequim da esquina a essa distinta Companhia para dizer que meu aparelho não funciona, eu vos chamar e vos disser, com lealdade e com as únicas expressões adequadas, o meu pensamento, ficarei eternamente sem telefone, pois "o uso de linguagem obscena constituirá motivo suficiente para a Companhia desligar e retirar o aparelho".
Enfim, senhor, eu sei tudo; que não tenho direito a nada, que não valho nada, não sou nada. Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge. Isso me trouxe, é certo, um certo sossego ao lar. Porém amo, senhor, a voz humana; sou uma dessas criaturas tristes e sonhadoras que passa a vida esperando que de repente a Rita Hayworth me telefone para dizer que o Ali Khan morreu e ela está ansiosa para gastar com o velho Braga o dinheiro da sua herança, pois me acha muito simpático e insinuante, e confessa que em Paris muitas vezes se escondeu em uma loja defronte do meu hotel só para me ver entrar ou sair.

Confesso que não acho tal coisa provável: o Ali Khan ainda é moço, e Rita não tem o meu número. Mas é sempre doloroso pensar que se tal coisa acontecesse eu jamais saberia -- porque meu aparelho não funciona. Pensai nisso, senhor: pensai em todo o potencial tremendo de perspectivas azuis que morre diante de um telefone que dá sempre sinal de ocupado -- cuém, cuém, cuém -- quando na verdade está quedo e mudo na minha modesta sala de jantar. Falar nisso, vou comer; são horas. Vou comer contemplando tristemente o aparelho silencioso, essa esfinge de matéria plástica; é na verdade algo que supera o rádio e a televisão, pois transmite não sons nem imagens, mas sonhos errantes no ar.

Mas batem à porta. Levanto o escuro garfo do magro bife e abro. Céus, é um empregado da Companhia! Estremeço de emoção. Mas ele me estende um papel: é apenas o cobrador. Volto ao bife, curvo a cabeça, mastigo devagar, como se estivesse mastigando os meus pensamentos, a longa tristeza da minha humilde vida, as decepções e remorsos. O telefone continuará mudo; não importa: ao menos é certo, senhor, que não vos esquecestes de mim.





Apesar da cronica ser um pouco grande, eu li e achei muito interessante, pois se percebermos Rubem Braga faz uma reclamacao do seu aparelho, que no caso é o telefone. Ele nessa cronica nos mostra a necessidade que o ser humano tem de ter uma amizade, ter alguem pra se comunicar e que o aparelho no qual ele se refere, seria um bom meio para isso. Bom, não sei se é exatamente isso, mas foi isso que entendi pelo que eu li.

19 outubro 2010

O Pavão

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rubem Braga
Rio, novembro, 1958

18 outubro 2010

Rubem Braga


  Bom por sugestão de Gilsa iria postar uma crônica de Rubem Braga. Mais achei melhor conhecermos ele primeiro, a historia e obra dele primeiro.

  Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim, 12 de Janeiro de 1913  Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 1990) foi um escritor lembrado como um dos melhores cronistas brasileiros. Era irmão do poeta e jornalista Newton Braga.
  Iniciou-se no jornalismo profissional ainda estudante, aos 15 anos, no Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim, fazendo reportagens e assinando crônicas diárias no jornal Diário da Tarde. Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte em 1932, mas não exerceu a profissão. Neste mesmo ano, cobriu a Revolução Constitucionalista deflagrada em São Paulo, na qual chega a ser preso. Transferindo-se para Recife, dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco. Nesta cidade, fundou o periódico Folha do Povo. Em 1936 lançou seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, e fundou em São Paulo a revista Problemas, além de outras. Durante a Segunda Guerra Mundial atuou como correspondente de guerra junto à F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira).
  Rubem Braga fez diversas viagens ao exterior, onde desempenhou função diplomática em Rabat, a capital do Marrocos, atuando também como correspon dente de jornais brasileiros. Após seu regresso, exerceu o jornalismo em várias cidades do país, fixando domicílio no Rio de Janeiro, onde escreveu crônicas e críticas literárias para o Jornal Hoje, da Rede Globo de televisão. Sua vida como jornalista registra a colaboração em inúmeros perió dicos, além da participação em várias antologias, entre elas a Antologia dos Poetas Contemporâneos.

Bom ai deu pra conhecermos um pouco sobre Rubem Braga. Amanhã postaremos uma crônica desse grande escritor.
Boa Noite a todos!!

Walney Rodrigues

12 outubro 2010

Neologismo

Bom na ultima aula a professora Gilsa nos fez uma pergunta sobre o que era neologismo e ninguém soube responder. Então resolvi postar aqui o que é neologismo para esclarecer a todos e não esquecermos mais.


Neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente. Pode ser fruto de um comportamento espontâneo, próprio do ser humano e da linguagem, ou artificial, para fins pejorativos ou não.
Pertence à família morfológica Neo (novo), cuja origem deriva do latim novus, nova, novum e do grego νές; do sânscrito návah.
Pode também referir-se a uma nova doutrina no campo da Teologia que procura esclarecer o significado e significante das expressões presentes nas traduções bíblicas.

Um exemplo prático, muito usado no Brasil, é o caso do termo "refri" onde se faz uso de um neologismo, uma vez que esta palavra é uma criação relativamente recente (Significa uma gíria para "refrigerante").

Espero que tenha esclarecido o que é neologismo ! Resumindo são palavras que inventamos e que surgem em todos os lugares telejornais descrevendo uma nova tecnologia e etc. Boa noite e bom feriado a todos!

Walney Rodrigues